Edificando uma Família - Adolescentes e seus conflitos

 É difícil conhecer um casal que não queira ter filhos, mesmo que sejam adotivos. Os filhos é a nossa resposta ao mundo de que ainda acreditamos no ser humano, que ainda temos esperança de dias melhores, que a fé é maior que o medo.
 Mas se há um período da vida deles que os pais quase se arrependem de tê-los é na adolescência, considerado por muitos como a "fase da aborrecência", pois estão em franca mudanças e se você já se mudou alguma vez vai concordar comigo, mudar dá trabalho!
 Imagine um caminhão de mudanças recolhendo tudo na sua casa, você pega seu carro e vai atrás. Meia hora depois ele para, coloca toda sua mobília e caixas no chão, nesse momento você recebe uma ligação do corretor dizendo que a se equivocou, que a casa não é aquela, mas outra cinco quarteirões depois. Vocês recarregam o caminhão e seguem para o "novo" endereço, após descarregar tudo, outra ligação do mesmo corretor dizendo: "Me desculpe, o endereço que te passei também está errado, volte três quarteirões". Mas isso não acaba aí, ao final do dia sua mobília está destruída, as caixas estão se rasgando e sua cabeça fervendo. É mais ou menos isso que acontece com os adolescentes entre 11 e 19 anos. São tantas mudanças internas e externas que precisam se adaptar que muitos chegam à maturidade destruídos espiritual, física e psicologicamente.
 Talvez você já sabia que isso acontece com os adolescentes, mas ainda não sabe o que fazer, pois todas essas mudanças tem apenas um objetivo: A conquista da identidade.

 O alemão Erik H. Erikson, na Segunda Guerra Mundial, identificou que os soldados que estavam próximos à grandes explosões ficavam totalmente desorientados, muitos não conseguiam lembrar nem do próprio nome, daí o psicólogo cunhou o termo crise de identidade. Após a guerra ele continuou a trabalhar e é um dos teóricos da Psicologia do Desenvolvimento, transportando esse termo para o amadurecimento dos jovens.

 Os opostos sempre se atraem?

 Ao entrar na puberdade deixa de ser criança para ser adolescente, direito de ser adolescente foi conquistado no século XIX, é a fase entre a criança e o adulto. Fase de múltiplas mudanças internas e externas, físicas e psicológicas, os hormônios começam a serem produzidos e lançados no organismo como uma bomba atômica, afetando as percepções e as emoções, "ele se torna um estranho de si mesmo"   diz o psicólogo Les Parrott.
 E o grande desafio da adolescência e encontrar uma resposta para a pergunta: "Quem sou eu?".
 Erikson afirma que ao conseguir responder à essa pergunta o adolescente encontra um norte para guia-lo e uma sensação de autocontrole o acalma e direciona, pela vida toda. Enquanto não consegue responder a pergunta esse ser humano será facilmente levado para qualquer lado, num esforço para agradar outras pessoas ou quem sabe contraria-las, tudo em busca da autoafirmação, preocupado com seu desempenho não para si mesmo, mas para provar para ou outros. Erikson classifica essa fase de "identidade difusa".
 Cada vez mais conectados, nossos adolescentes buscam sua identidade em modelos universais como atrizes e cantoras famosas, atletas de alto desempenho, TV, cinema tudo pode influenciar nessa busca, e eles começam a imitar esses "modelos" com roupas, gestos, gostos e costumes, fundindo e apurando cada característica para formar sua própria identidade ao final dessa fase da vida.
 Essa busca de identidade, se não for bem administrada, pode causar ansiedade, depressão, levar o jovem aos vícios e ao sexo precoce. E quando na adolescência não conseguimos formar a Identidade do EU, passamos se comportar como fantoches, sendo manipulados pela ocasião, trocando de papel o tempo todo para agradar todo mundo, mas nunca conseguindo agradar a pessoa mais importante de minha vida: EU!
 E como funciona essa busca de identidade?
 São vários os caminhos tomados pelos humanos, mas vou citar os mais acessados, segundo Les Parrott.

 Edificando uma família

 Relações Familiares: Sem dúvida a família é a célula social que mais influencia o adolescente, positiva ou negativamente. E não deve abdicar do direito de auxiliar nessa construção.
 Na adolescência as pessoas tentam se desvincular da proteção familiar, o filho já não aceita mais o beijinho da mãe perto dos amigos, do mesmo modo a filha não deseja ser chamada de amorzinho pelo pai na frente das amigas. Eles buscam individualidade, inclusive entre seus irmão. Quando seus irmão ou primos mais velhos são bons naquilo que fazem e as pessoas da família não param de elogiar, há uma pressão psicológica sobre o adolescente, e em alguns casos cria revolta a ponto de abandonar os estudos, fugir de casa ou partir para a delinquência. É importante mostrar opções aos adolescentes, direcionar seus sonhos, criar visão de futuro, isso ajuda a criar a identidade própria.
 Símbolos: Os adolescentes se identificam e se agrupam pelos símbolos que usam, seja uma camiseta da banda preferida, uma séria da TV, jogos eletrônicos ou até mesmo bebidas, drogas e sexo. Todo adolescente busca a sua "tribo" e fará quaisquer coisa para fazer parte de uma, inclusive expondo outros ao ridículo para reforçar a própria identidade, rotulando e segregando os diferentes.
 Imitar Adultos: Quer matar uma adolescente é chama-la de criança, nessa idade há uma forte necessidade de parecer adulto, maior, mente aberta, sendo presas fáceis para o proibido - drogas, sexo precoce, álcool - tudo que que pais e outros adultos dizem que não podem por ser jovens desperta desejo, como que provando que estavam errados à seu respeito. Segundo Les Parrott, citando Smith & Fogg as "estatísticas recentes sobre adolescentes sexualmente ativos" revelam que muitos deles "assume esses comportamentos para se libertar das restrições da família, conquistar mais aceitação social ou mesmo pela simples experiência ou por curiosidade". É comum que os adolescentes assumam essa postura de adulto em algum momento dessa fase, mas precisamos influencia-los para que espelhem-se em algo positivo nos adultos e não nos vícios e atitudes reprováveis.
 Revolta: Talvez na tentativa de evitar o "plágio" paternal muitos adolescentes recorrem à revolta para construir uma identidade própria. O desejo de ser diferente permeia as ideias dos adolescentes, mas não tão diferente que não seja igual aos colegas, mas diferente da família. Ao buscar sua identidade esses jovens podem rejeitar os valores dos pais em determinados assuntos como religião, família, estudos, mas com o tempo "seus ideais simplistas e irreais, não raro se tornam ineficazes e, algum tempo depois, são abandonados", diz Les Parrott.
 Espelho Social: Na adolescência é comum que tomem mais tempo em frente ao espelho, pois estarão extremamente preocupados se estão sendo aprovados pelos outros. Nesse momento não adianta a mãe dizer: "Meu filho essa roupa está horrível, você está parecendo o Snoop Dog!", mas se um amigo falar: "Cara essa roupa não tem nada a ver", as chances dele nunca mais usa-la é maior. Porém o inverso também acontece, mesmo recebendo um elogio: "Meu filho será um grande cantor um dia!". Para não decepcionar a mãe esse garoto para de cantar e começa a dedicar-se a outra coisa. Isso ocorre porque ele não ter a identidade formada, mas "consciente de suas fraquezas, ele se sentirá mal com uma declaração que não deixa espaço para erros" declara Les Parrott. Buscando outras alternativas para se desviar dessa carga e provar que a mãe estava errada, desenvolvendo qualquer outra atividade para não ter que falhar e decepcionar as pessoas.
 Ícones: Pessoas em destaque na mídia sempre serão uma referência para aqueles que estão no início da transição para a adolescência. Ao encontrar um modelo, o adolescente está sempre disposto à viver novas personalidades, explorar novas realidades de si mesmo, muitas vezes encontrando seu futuro na vida de outra pessoas, até incorporar determinados traços à sua identidade. Ao espelhar-se em alguém não significa necessariamente aprovar sua conduto e seus valores, escreveu Les Parrott.
 Segregação: A intolerância aos "diferentes" nessa fase da vida é normal devido à necessidade de autoafirmação da própria identidade, podendo ocorrer excessos como xingamentos, perseguição ou exclusão de pessoas por detalhes como uma peça de roupa, música ou postura política, reforçando pontos importantes dessa identidade em construção e sem arrependimentos. Erikson afirmou que "normalmente, no fim da adolescência, o jovem percebe que é preciso ter uma identidade muito forte para tolerar as grandes diferenças".

 Planejamento, execução e avaliação

 Seja qual for o momento da vida desse adolescente que convive contigo, o mais importante é saber que tudo isso é apenas uma fase de transição, onde o jovem deseja mais espaço e liberdade, mas também requer orientação, controle e vigilância dos responsáveis, inclusive do que esses jovens assistem ou seguem nas redes sociais.
 Segundo dados do Governo brasileiro, dos 3 milhões de nascidos vivos no país em 2015, nada menos que 18% são de mães adolescentes e dessas 75% estão fora da escola. Enquanto que na Europa a taxa de natalidade em adolescentes tem o teto na Bulgária 4,2%. Em Portugal há uma média de seis partos diários em adolescentes.
 Os Estados Unidos da América não pode se orgulhar do baixo nível de gravidez na adolescência, pois o país vive uma epidemia de drogas, em 2016 morreram aproximadamente 60 mil pessoas pelo consumo de drogas.
 Há um componente comum à todas regiões do planeta, que é o aumento do consumo de álcool na adolescência, pesquisas estimam que 55% dos adolescentes já consumiram ou consomem bebidas alcoólicas.
 Com tantas oportunidades para fazer o errado, por qual motivo o nosso jovem vai fazer o certo?
 Não temos todas as respostas, mas não é por isso que vamos abandona-los à própria sorte, temos o dever de abraça-los e orienta-los aos melhores caminhos.

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 Fonte:
 Parrott, Les. Adolescentes em Conflito: Os 36 problemas mais comuns na adolescência: um guia prático para pais e educadores; Tradução Denise Avalone. São Paulo: Editora Vida, 2003.
 http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-05/gravidez-na-adolescencia-tem-queda-de-17-no-brasil - acesso 08/Jan/2018 - 18:55
 http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/03/no-brasil-75-das-adolescentes-que-tem-filhos-estao-fora-da-escola.html - acesso 08/Jan/2018 - 18:56
 https://www.dn.pt/sociedade/interior/maes-antes-do-tempo-seis-adolescentes-dao-a-luz-todos-os-dias-em-portugal-5706775.html - acesso 08/Jan/2018 - 19:05
 https://www.publico.pt/2011/01/21/sociedade/noticia/uma-media-de-12-adolescentes-dao-a-luz-todos-os-dias-em-portugal-1476391 - acesso 08/Jan/2018 - 19:00
 https://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/12/internacional/1497295458_563632.html  - acesso 08/Jan/2018 - 19:10
 http://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2016/08/cresce-o-consumo-de-alcool-entre-adolescente-segundo-o-ibge.html  - acesso 08/Jan/2018 - 19:15

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